Para conservação da vida


Ouça do cômodo em que está, a voz embargada de  José rompendo os limites estabelecidos pelas paredes de pedras da qual o palácio foi feito. E mesmo sendo uma voz que invade a sala, não se percebe ressentimento ou vingança. 

O que nota-se na voz que chora é o descompilar de um peito que tinha todo poder e autoridade pra fazer pagar, tanto quem lhe fez mal, quanto quem compactuou com a atitude dos irmãos de vendê-lo por falta de afeição e ciúme.

A voz que pergunta pelo pai é a mesma que provê perdão e segurança para os presentes — um verdadeiro absurdo: "Foi para conservação da vida que Deus me mandou adiante de vocês". (Gn 45:5)

O propósito da vida deste filho de Israel era tão grande, exatamente do tamanho do Egito — que não havia  como José se render a sugestiva mágoa e ressentimento que as determinantes ações de seus irmãos o poderia fazer carregar. 

Uma pronta resposta dessas, requer viver em outro patamar de pensamento e postura. Como nota-se no decorrer de sua história. O fato é que a conservação, é um estado em que não se é alterado a essência, seja pelo tempo, pelas circunstâncias ou pelas pessoas. A conservação o mantém em um estado genuíno que pode se confundir com inocência ou ingenuidade.

Quão gigantes são os inocentes e ingênuos — olhe as crianças. Mas tratando-se de seres adultos, quantas coisas deixamos nos aflingir sem a mínima noção de que o tal acontecimento era pra conservação da alma? Quantas coisas ainda acontecerão para conservar nossa alma e teremos de lembrar que até os "desacontecimentos" da vida, têm um fim útil se nos mantermos caminhando com o propósito maior de chegar do outro lado?

Silêncio. Sem receber o que mereciam, tentam processar o encontro com alguém que se encontrou com Deus. Assim, há paz para avaliar: o que não me acontece de bom, e o que me ocorre de ruim, acontece por um motivo que eu só vou entender lá na frente. A história sempre será maior do que conseguimos acompanhar. 

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