O medo da música clássica

Eu fiz uma playlist nova e só tem quatro músicas (por enquanto). O nome é "silence", porque ultimamente, tenho usado todo meu inglês pra fazer títulos, principalmente dos meus poemas que ninguém lê. Quatro músicas que não estão entre as mais tocadas, muito menos entre as mais pedidas na rádio. 

Tudo depende do ritmo que a música imprega. A que toca enquanto escrevo, Threnody da Goldmund, é uma porção de notas calmas, que em silêncio conversa com a gente. Não uma conversa retardada, do tipo em que falamos sozinho - e se falar, tudo bem também - mas do tipo capaz de revelar os mais variados sentimentos dentro de nós.

A automática fala "não gosto desse tipo de música", talvez, seja justamente o medo de se escutar. E isso pode ser que explique o não populismo desse ritmo, pra mim, tão envolvente. 

Quando não nos ouvimos, temos a tendência de seguir o fluxo, e escutar aquilo que está falando ou tocando mais alto. Ou apenas nos deixamos levar pela personalidade persuasiva das pessoas a nossa volta.

Na tentativa de definir, posso dizer que é como se a vida passasse pelos nossos ouvidos, e há músicas que transmitem essa sensação de que nossa vida toda aconteceu em 4'30, como é o caso da calmaria e euforia de "The road to you", do Stefano Gazzetti.

É compreensível o julgamento para com a música clássica, porque, de fato é difícil olhar pra dentro e ver tantas marcas, feridas abertas e o que realmente somos. É imprescindível a dor ao nos enxergamos realmente. Mas também, não é porque dói agora que precisa doer pra sempre.

Ver nossas feridas nos dá a chance de tratar diretamente o local e a causa. Alguém escreveu que "só o que te desafia, te transforma", e de fato, só quando encaramos nossos temores é que podemos, enfim, superá-los. Portanto, ouça música clássica! 


Ps. A playlist "Peaceful Piano" no Spotify é maravilhosa.

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